sábado, 29 de dezembro de 2007

os pincéis do asfalto, as estradas finais e outras articulações impróprias

Assuma. Já não se importa. É a conclusão. Seja lá como estiver (na calçada roxa ou de salto e gravata), embora pouca coisa reste quase que eternamente, simplesmente não irá notar. Quem ensinou e quem aprendeu? Pergunta descartável. Não perceba, mas não finja que esqueceu. É cruel. É jogar sujo demais. Não olhe, não veja. Mas não finja inexistência. É que pode acabar extinto mesmo.

O ponto final é só um ponto final entre um parágrafo e outro. Entre um capítulo e outro. Entre uma história e outra. É aqui onde morre o perigo. É aqui onde tudo é colocado em risco. E quando entra em risco, morre um pouquinho. E se é capaz de morrer um pouquinho, é capaz de morrer por completo, fazendo desaparecer tudo, até o suposto perigo. É aqui onde está a ousadia, o não-medo que nem é coragem [é quase puramente covardia].

Joelhos retos. Mãos no bolso. Garrafa d’água. A mente perdida entre os gostares. Rostos. Postos. Gostos. Que venham as unhas enfraquecidas, os bilhetes em letras garrafais. Qual é o preço? Um filme antigo às três da madrugada de um sábado? Ou ainda seria sexta? A diferença é no outro, no outro dia... No espaço para mudança, na traição da [falta de] lembrança.

quinta-feira, 27 de dezembro de 2007

- Cadê a rabanada?

Foi a primeira coisa que ouvi do meu pai na manhã do Natal. Exatamente às 15 pras 10 do último dia 25. Ele tinha acabado de acordar, e a primeira coisa que perguntou foi pela tal rabanada (com aquele bafo de cerveja que só filho de quem bebe conhece).

O engraçado é que – Cadê a rabanada? – foi a primeira coisa que me veio à cabeça quando cheguei em casa, depois da festa, às 4h30. E procurei pela casa toda, sim, porque tinha comida e coisas pela casa toda - sem os sapatos e sem acender a luz, claro.

Até que a encontrei na primeira prateleira da geladeira, num recipiente de plástico, debaixo dum outro recipiente de plástico rosa onde tinham guardado toda a farofa do Peru. “Mas quem guardou a farofa do Peru nesse pote e o colocou dentro da geladeira??? Mas, na geladeira???”

Bem, eu não sei quanto na casa de vocês, mas aqui, a farofa nunca foi guardada na geladeira. Geralmente, tem um recipiente próprio pra ela, que fica ao lado do fogão ou dentro do armário... Mas, ah, deve ter sido coisa do meu pai.

E então, eu comi uma rabanada e pensei: “Isso deve ser bom no café da manhã”. E fui dormir já planejando a minha primeira refeição do dia seguinte (coisa de gordo né). E então eu acordei às 9 e pouco (juro que tentei dormir mais pra tentar diminuir um pouco as minhas olheiras, mas não deu, e elas já fazem mesmo parte da minha vida e assim eu tento ser feliz) e fui lá atrás da rabanada.

Na verdade, tava sem fome... Passei um tempo examinando os estragos na cozinha – e no resto da casa (sobra de comida e louça por toda parte) - e tentando, de certa forma, amenizar alguma coisa (E até tentando catar algum motivo pra algum texto – afinal, eu tinha acabado de finalizar “Orgias”, de Veríssimo).

E aí eu comi uma porção de sorvetão! “Meu Deus, que delícia”. Pena que foi transferido para uma outra travessa (pra não ocupar tanto espaço no congelador) e não foi com toda a calda de chocolate que tinha. Diz minha mãe que tava com muito açúcar, e por isso ela preferiu jogar fora.

Ah, e falando na minha mãe (é que certa vez me perguntaram se meus pais eram separados, porque eu sempre falo no meu pai, só no meu pai, foi então que comecei a reparar o quanto gosto e sou apegada a ele. E pois bem, eles não são separados). E a primeira coisa que minha mãe disse quando me viu, na cozinha, saboreando o doce, foi: MININA, TU JÁ TÁ COMENDO??!!!

É, definitivamente, eu acho que puxei pro meu pai.

Ah, e tem mais. Quando ele abriu a geladeira, ele balançou a cabeça em movimento de susto e fez: RÃM!?! Foi exatamente o que eu fiz quando abri a geladeira no dia anterior. (É, aquela geladeira estava assustadoramente assustadora mesmo).

E então eu disse que tava debaixo da farofa e a minha mãe foi logo pegar pra ele dizendo: “como se ele tivesse vendo pelo menos a farofa...” (O que é bem compreensivo quando se trata de um ser do sexo masculino procurando algo na geladeira, no armário, etc... Segundo aqueles livros que seguem o receituário de “Quem veio primeiro, o ovo ou a galinha?”, tratando de assuntos “Homem versus Mulher” que, certamente, minha mãe nunca leu, mas sabe muito bem já que é casada há mais de 25 anos e mãe de dois filhos homens. E eu sei – não sei se muito bem – por ter lido algo sobre o assunto...).

E então abrimos o pote e eu falei que talvez aquilo fosse bom com café com leite, e ele balançou a cabeça negando a minha observação e disse: Com Tuchaua!

Meu Deus, com Tuchaua? (Suspeito que se fosse coca-cola, eu nem ficaria surpresa). Come que pode alguém guardar a farofa do Peru num recipiente de plástico rosa, coloca-lo na geladeira e querer comer rabanada com Tuchaua no café da manhã?

Enquanto isso, a minha mãe tava lá, esquentando o leitinho dela pra tomar com café. É, eu acho que puxei pra minha mãe.

De qualquer forma, tenho uma novidade novinha pra contar: No Natal do ano que vem a família estará maior! E por causa disso, eu já tenho andado um tanto emotiva. “Oh céus, teremos um bebê em casa!” Torço para que seja uma garotinha. Se for, tenho certeza que a casa toda vai mudar, não sei direito o porquê, isso parece até meio preconceituoso em relação a garotos, mas... Eu tenho cá os meus motivos!

Já até começamos a discutir os prováveis nomes. Foi então que eu fiquei sabendo que a Vovó Alba (na verdade, bisavó) se chamava Albatroz. Veja só! Além disso, soube também que por pouco não fui batizada como Wanessa ou Waléria. Assim mesmo, com W! Na verdade, quanto à origem do meu nome, meu pai já me contou duas versões: a dele, própria; e a versão dele para a versão da minha mãe.

E as duas versões (que quem sabe eu possa contar em algum outro post qualquer) têm lá a sua graça e elegância. Assim como cada um deles, principalmente nas características que me fazem refletir o quanto somos parecidos (olha a modéstia). O que posso achar deles? O que eu acho deles, é como achar de mim mesma também.

Só espero um dia aprender a contar histórias – e versões – como meu pai. E aprender a fazer rabanadas como a minha mãe. (Aquelas que rendem festa antes e depois da festa).

E que venha o próximo ente da família!

*E ainda bem que eu me chamo Giselle, caso contrário, não haveria sentido a existência do codinome X-L! E, certamente, meu zine teria outro nome, assim como o meu blog teria outro endereço... e, enfim, muita coisa seria diferente...

domingo, 23 de dezembro de 2007

O amor que não era nada romântico - Parte I

Encontrei Drummond com um sorriso singelo e um olhar misterioso. Seu rosto estampado na capa do livro “O amor natural” não me deixou dúvidas: é esse mesmo que eu vou levar! Era início de setembro, VII Feira do Livro de Brasília. Eu estava na capital do país participando do XXIX Congresso Brasileiro de Ciências da Comunicação – Intercom.

Há cinco dias longe de casa, dos amigos, da família e do namorado, meu coração miúdo se sentia tão triste, afinal, apesar de toda aquela agitação de profissionais e estudantes da comunicação, as noites eram sempre as mesmas. Resolvi apelar então para o livro de poesias, na verdade, há tempos eu queria comprar um e percebi que aquele era o momento ideal.

No penúltimo dia da feira, voltei de mãos dadas com Drummond, e o caminho até o hotel ficou de repente tão curto! Chegando ao quarto, o poeta trouxe um brilho diferente à anêmica pilha de livros que eu já tinha adquirido, afinal, eram todos livros técnicos, de jornalismo, história, cultura, etc.

Naquela noite, eu me contentei apenas com o olhar e o sorriso de Drummond. Quem sabe não começávamos a conversar no dia seguinte. E o dia seguinte veio. No Intercom, palestras, discussões jornalísticas e muitas novidades fizeram as horas correrem em passo acelerado. Ao anoitecer já no quarto do hotel, após o jantar, pego o livro do Drummond e vou ao banheiro.

O amor que não era nada romântico - Parte II

Começo então um ritual. Olho novamente a capa. Paquero brevemente Drummond. Abro-o. Uma imagem meio abstrata. Viro a página. “O amor natural” - não existia título melhor para um livro de poesias românticas. Passo algumas outras, e chego ao índice: Amor – pois que é palavra essencial”, era a primeira poesia.

Depois de longas 12 páginas, consigo alcançá-la, enquanto isso, um arrepio corria-me pela espinha junto com uma gigantesca ansiedade. Eu não via a hora de matar um pouquinho a saudade do amor que ficou em Rio Branco, afinal, poesia romântica é um abraço quente, um beijo carinhoso e bonitas palavras ditas baixinhas ao ouvido.

“Amor – pois que é palavra essencial”, título e primeiro verso do poema que continuava: “...Amor guie o meu verso, e enquanto o guia, reúna alma e desejo, membro e vulva...”...

Interessante, segui para a outra estrofe: “...Quem não sente no corpo a alma expandir-se até desabrochar em puro grito de orgasmo, num instante de infinito? É, bonito....

“Ao delicioso toque do clitóris, já tudo se transforma, num relâmpago”, dizia outra estrofe. “Vai a penetração rompendo nuvens e devassando sóis tão fulgurantes”, começava outra...

- Ah, peraí, não é isso que eu quero ler – virei a página: “Amanhã é setembro, e ela me beijava o membro”, iniciava-se outra poesia. - Hãm? - Passei algumas páginas, cheguei num desenho de uma mulher desnuda ao lado do título: “O que se passa na cama”, virei a página, “A moça que mostrava a coxa”, de repente virei um monte de páginas seguidas e acertei: “No mármore de tua bunda”.

E então eu fiz cara de “...” e me peguei nua, num banheiro de hotel, gemendo com um livro de poesias eróticas! Depois de olhar em volta e ter certeza que estava realmente só, a minha reação não podia ser outra, eu ri sozinha – e muito.

O amor que não era nada romântico - Parte III

Mas tudo bem, hoje ainda tem feira, talvez eu possa trocar o livro. O sorriso singelo e olhar misterioso de Drummond se transformaram em um sorriso safado e olhar malicioso.

Não trocamos livro aqui, você tem que ir à loja, fica lá em cima”, disse-me a vendedora. Tudo bem, peguei a escada rolante – ainda rindo de mim mesma – e fui até a Livraria Siciliano. Chegando lá eu disse que havia comprado o livro errado e queria trocar, a moça me pediu o cupom fiscal – não, eu não trouxe o cupom fiscal - respondi.

Aliás, quem é que guarda cupom fiscal? Eu não guardo, ainda mais de um livro de poesias – supostamente românticas – do Drummond. “A gerente não tá bem-humorada hoje, procura o cupom e volta aqui depois, mesmo não o encontrando, quem sabe a gente dá um jeito...”, consolou-me a jovem.

Então, no longo caminho de volta ao hotel, pensei comigo mesma: Mas que cupom fiscal? Eu não recebi nenhum cupom fiscal! Realmente, eu não tinha recebido, e eu sabia bem o porquê: Quando comprei o livro, era tarde e a feira estava fechando, o livro custava 26,90 reais, e por falta de troco, a vendedora fez de 20,00, pediu-me segredo e então fiquei sem cupom.

Mas tudo bem, da próxima vez que a carência de amor bater, pensarei duas vezes antes de deixar-me levar por qualquer rostinho bonito em capa de livro ou por qualquer desconto irrecusável. Aliás, dizem que a gente deve ler de tudo né? Ah, então tá!

terça-feira, 11 de dezembro de 2007

[diário] normalidade*

Sabe quando a gente acorda com vontade de ter um dia normal? Resguardado aos tratados exclusivamente internos?

É, José.

*das coisas que eu nem ouso explicar, é que avisar assusta.
*o mundo não me compreende!!! (daquelas crises existenciais da pré-adolescência).
*A trilha? Ah não! Confesso: precisa ser dance of days! (sim, emo, emo, emo, e daí?). Souassimesoufeliz.com 2 !
*Pólos opostos - redundância? Eu sei é que essa atração gera conflitos. Distância. Fundamental. Manter. De mim, para mim mesma. Eueumesmoeirene, sabe?
*"... antes do guarda-chuva vem a chuva, vem a chuva...”

segunda-feira, 10 de dezembro de 2007

Noite de domingo - II*

Resolvi falar da noite de domingo - novamente. Pois notei que falar na noite de domingo deixa alguém bem. E se este certo alguém fica bem, significa que eu fico também. E este certo alguém - meu bem, é meu bem, então, sou eu também. Certas noites de domingo chove. Chove mais que chuva. Chove estrela e outras coisinhas mais. Em certas noites de domingo chove coisinhas simples. Um motivo, por exemplo. Quando a gente menos espera, a gente ganha, numa noite de domingo, um motivo a mais. Para viver e descrever infinitas noites de domingo. Daquelas noites – de domingo ou não – em que as nuvens passeiam no céu como se compreendessem, se divertissem e se deliciassem com as noites de domingo.

*Um paralelo ao post -
Noite de Domingo I

sexta-feira, 7 de dezembro de 2007

Boto que é bom, nada!


Ceis acham mesmo que eu acredito nessa história de boto no Rio Acre é? Pois saibam: pra mim, isso continua a ser lenda. Nunca vi! E olha que sempre procuro quando passo. Vejo coisas como essas nas fotos aí*. Vi e bati foto! Mas, boto que é bom, nada!

tsc tsc tsc.

*das coisas curiosas que se pode ver no Rio Acre numa manhã de quarta-feira ao atravessar a passarela.

quarta-feira, 5 de dezembro de 2007

moderna*

Sou do tipo que sente vontade, às vezes, de mandar alguém calar a boca e me enviar um e-mail. E quando alguém fala “hãm?”, eu mexo os dedos à procura do Ctrl+C / Ctrl+V. Existem aquelas ocasiões em que um Ctrl+Z cairia super bem – e como! Aliás, eu confesso: Já fechei os olhos com força e pensei - “puxa vida! Será que não tem mesmo como dá um Ctrl+Z???”

Geralmente, eu queria apenas clicar o “off-line” e ficar “away”, mas só externamente. E ficar só no reparo, sem precisar me manifestar em nada, totalmente incomunicável e invisível. Eu queria que tudo que sumisse (ou que eu perdesse), tivesse um número para qual eu ligasse e então ele tocaria onde estivesse e eu iria buscá-lo seguindo o seu toque. Que nem a gente faz com o celular. Eu só agradeço por não ter o Ctrl + Alt + Del. Se tivesse, acho que eu “jáuera"!

*cada um é do seu jeito.
*souassimesoufeliz.com
*e quem não é?
=]