segunda-feira, 24 de janeiro de 2011

Esquinas

É um tempo distinto, de outros verbos de devaneios; em outro espaço e amplitude. Tenho enfatizado o meu desjeito com as virtualidades, mas sempre soa meio forçado e enganoso. Não sei se ainda cabe um blog de nome próprio, acompanhado por um X-L, definido por palavras quaisquer e outros mimos.

Mas tenho feito descobertas. Descobertas que, n’outra ocasião, poderiam me render roteiros, poemas, crônicas e alguns outros enganos.

Mas tenho me reduzido a um traço reticente de silêncio. A rotina acompanha um dia mais longo – o horário é de verão –, e mudanças tão mínimas mudam quase uma vida inteira.
Mas a felicidade não pode ser clandestina (já há clandestinidade demais sobre os olhos). E ela – a felicidade – se amplia quando compartilhada. Para isso, também é preciso amadurecimento (já disse que sou uma velha?).

A passagem pela Bahia me provou o quanto o mundo não precisa ser temido. E isso já estava no inconsciente, desde o Rio Grande do Sul. É que atrás de um espírito bom, sempre vem outro.


Voltando de Alagoinha, passei pela placa que anunciava Maracangalha. Ganhei uma trilha e continuei seguindo. Um avião passa rápido pela janela e talvez eu esteja nele.

O silêncio também compõe os vales sagrados do Perú. A viagem a Cusco foi um momento de simples e descontraída contemplação.


Porque as cachoeiras da Chapada dos Guimarães, de Blush Azul, me fizeram sentir mínima: a natureza é grande demais para qualquer indício de anseio negativo. O ser humano é quase um nada. E a finura entre grandeza e respeito os torna sinônimos.

Mas a Cordilheira dos Andes é de um vazio acolhedor e aconchegante. Até tentei pescar alguns pensamentos e vestí-los de inspiração, mas eu estava tão perto do céu, muito acima deles...


Porque a Cidade do Cabo é grande demais para qualquer certeza e finitude aparente. O mundo não é único. E só as amizades que ele torna possível chegam a um tamanho parecido.

São Paulo é um vinho seco, tomado na virtuosidade de uma piscina particular. Se olhar bem: em todo lugar tem uma montanha.

E assim, vou misturando serenidades e alguns aflitos. Também misturo os exercícios de desapego e desprendimento.

Mas também peguei uma carona num trem e mergulhei em quitutes mineiros bem além de queijos. Porcelanas de todas as cores e santos para todos os milagres e sacrifícios.

Foi por aí que eu me dei conta que o amor é realmente lindo – principalmente quando visto à distância. Como a infância. E vou cruzando latitudes e longitudes numa brincadeira que é minha única inconseqüência.

Há tanto adjetivo. Mas nenhum qualifica.

Para um comentário, não olho como se mirasse o passado. Há um horizonte distante... E eu só peço: ... Dai-me luz. E me sinto atendida.

quinta-feira, 13 de janeiro de 2011

Em tempo:

o GRANDE é duradouro...

quinta-feira, 6 de janeiro de 2011

Uma nova cantoria...

Para espetáculo inédito, Grupo Vivarte investe na construção coletiva. Roteiros antigos serão retrabalhados e permanecem as rimas e as cores da literatura de cordel


GISELLE LUCENA

Os últimos meses do ano chegam ao Acre trazendo chuva: o rio se alarga, as folhas revigoram suas cores e o chão de terra vira barro por onde deslizam pequenos fios de água doce. Para entrar no Centro Cultural Vivarte, por exemplo, lá no bairro Vila Ivonete, por trás da folhagem poderosa, composta pelas Folhas Rainha e Cipó Jagube, não se pode ter medo da natureza, é preciso, apenas, respeito e adaptação: afastar um galho aqui, desviar de um outro ali e, na porta, tirar os sapatos – este último, nada mais que um costume local.



Centro Cultural também é casa e galpão de ensaios


E numa tarde qualquer, debaixo de chuva fina, num dia de meio de semana, o centro recebe a visita do secretário de cultura da cidade e também historiador, Marcos Vinícius Neves. Ele foi conversar sobre o roteiro da apresentação do grupo Vivarte em solenidade do município e acompanhar o ensaio final. Antes de sair, os artistas não deixam de perguntar sobre o Fundo de Cultura, e então, o presidente da Fundação Garibaldi Brasil se distancia do papel de historiador e os lembra do Fórum marcado para a noite daquele mesmo dia. Mas, infelizmente, os artistas do grupo Vivarte não confirmaram presença, pois naquela noite, além de aproveitar o máximo a presença do dramaturgo Edmilson Santini eles tinham outras visitas a receber: a atriz e contadora de histórias Karla Martins e o artista plástico Darcy Seles. E a dramaturgia continuava como mote para os encontros.

Espaço permanece aberto para visitas, práticas e debates sobre cultura, dramaturgia, história...

No Centro Cultural que também é casa e galpão de ensaios, a discussão é diária. O grupo que vive da/e para as artes é, também, um grupo de irmãos-amigos, seres humanos que também se cansam de si e destoam mentes e quereres: o espaço é pequeno, o tempo é curto, as idéias são muitas e os obstáculos da vivência cotidiana são desafiadores (ou tem ensaio do novo espetáculo ou tem oficina de Maracatu). E assim, os roteiros, as histórias, os enredos e as políticas culturais vão sendo construídas e vividas.

Teatro de Rua e da Floresta
O grupo experimental de teatro de rua Vivarte é agora de “teatro de rua e da floresta”, enfatizando a sua trajetória, seus trabalhos, roteiros e objetivos. “Encantoria”, o atual trabalho de construção do grupo, brinca com lendas, mitologias e personagens da floresta. O texto é do dramaturgo e cordelista pernambucano Edmilson Santini. Ele conheceu o grupo a partir de encontros da Rede Brasileira de Teatro de Rua, em 2009. Ainda no final do ano passado, Santini esteve em Rio Branco e teve a oportunidade de interagir melhor com o Vivarte. Foi quando resolveram retrabalhar o texto “O Casamento da Filha de Mapinguari”, uma produção feita à distância, por email. Já em 2010, Edmilson voltou ao Acre para participar do Arraial Cultural do Estado. Na ocasião, fortaleceu o trabalho com os artistas e voltou para casa com a tarefa de pensar e elaborar um novo texto.


Dramaturgo e cordelista Edmilson Santini escreveu texto de acordo com as experiências, dele e do Vivarte, com a cultura popular

Em dezembro deste ano, por meio de projeto financiado pelo Fundo Municipal de Cultura, o cordelista esteve novamente na capital acreana e, durante os 15 dias que passou na casa do grupo Vivarte, investiu na criação musical, leitura e discussão do roteiro de “Encantoria”. “Realizamos um encontro de entendimentos”, afirma. De acordo com a diretora Maria Rita, construir esta interpretação em parceria foi uma experiência única. “Estar com o autor do texto presente, acompanhando os ensaios, é um exercício completamente diferente”, conta a também atriz.

A sala que também é cozinha vira então o espaço para ensaios. No chão, cada integrante arranja o seu espaço, segura seu instrumento e o texto. Santini coordena os trabalhos e lembra Nelson Rodrigues e Gonzaguinha para inspirar a criação do grupo. Segundo ele, a experiência em Rio Branco foi inédita em sua carreira. “Foi a primeira vez que vivi esse acompanhamento e construção em parceria com um grupo, num lugar que é, na verdade, uma casa-oficina”, diz. “É importante que isso aconteça e que seja em cordel, porque o Brasil deve muito a esta literatura”, completa.


Animais da floresta sempre estão presentes nas histórias do grupo

Durante o ensaio, Magno Oliveira, um dos integrantes, é interrompido por uma criança do entorno que vem pedir o coador de café emprestado. É que as portas estão sempre abertas, e o ir e vir do fazer cultural na comunidade é rotineiro. A vivência foi tão múltipla, que Santini volta para a sua casa, agora no Rio de Janeiro, com a tarefa de construir um novo texto: As Cachimbeiras, mas esse é um roteiro para um futuro mais distante...

ENCANTORIA – “O texto foi construído com base nas histórias das nossas andanças e na experiência dele com a cultura popular”, explica Maria Rita. O “Encantoria” é uma viagem na história do país por meio da cultura popular: um grupo de brincantes vai atravessar a noite da floresta e recebe uma visita inesperada e passa a viver uma realidade mágica. Várias histórias surgem e os brincantes viram personagens: onça, uirapuru, índia, caipora... “Tudo nessa história conta com a mitologia da floresta”, garante Santini, autor do texto.

Outros Olhares - “Karla Martins achou o roteiro complexo, mas elogiou o texto e o arranjo musical”, orgulha-se Rita. “Este novo espetáculo é um grande desafio para nós, por isso, precisamos nos debruçar muito para que fique bom”, conta. Segundo a diretora, o grupo planeja chamar outras pessoas da área para assistir aos ensaios e levar outros olhares à construção. Ela reconhece o valor da interação entre os artistas para este processo. “É muito importante contar com a experiência de quem atuou durante muito tempo com teatro de rua. Observar e conhecer os trabalhos e a atuação de Karla Martins e Ivan de Castela, por exemplo, é fazer escola. Eles são grandes referências”, diz. “Propomos fazer um teatro experimental de rua e de floresta, temos que fazer internamente depois ir pra rua”, completa.

Prêmios, idéias e projetos

Neste ano, o grupo foi um dos contemplados com o Prêmio Matias de Cultura Popular, com um projeto de ampliação do galpão de ensaios da casa que, segundo a diretora, “está sempre cheia”. Nesse sentido, Maria Rita avalia de forma positiva a atuação do grupo durante o ano de 2010. “Foi um ano de o Vivarte mostrar que está aos poucos achando o seu caminho, sua linguagem etc.” No próximo dia 30, a casa vai receber o grupo Majericão, de Porto Alegre. “Estamos planejando uma viagem a uma comunidade ribeirinha”, revela Rita.


Seis artistas compõem o elenco do novo espetáculo

Além da finalização e circulação do novo espetáculo, também está nos planos do Vivarte, a compra de equipamentos para realização de oficinas e ensaios do espetáculo “Manuela e o Boto”, que será remontado. “Os ensaios serão abertos e acontecerão nas praças, juntamente com as oficinas de teatro de rua e maracatu”, explica a diretor. Outro espetáculo que ainda está em cartaz é “O Casamento da Filha de Mapinguari”. O grupo dá continuidade à turnê de circulação que o levou para várias escolas públicas da cidade e zona rural, como o CERB e a Escola da Floresta, com patrocínio da Caixa Econômica Federal.

Oficinas de Percussão – Um dos projetos oferecidos pelo centro são as atividades das oficinas de percussão, ministrada por Lua Azevedo. O projeto, realizado com recursos da Lei Municipal de Incentivo à Cultura e patrocinado pela Uninorte, possibilitou a formação do grupo “Nação Arco-Íris”, com 15 de crianças, entre quatro e 16 anos. Os ensaios acontecem duas vezes na semana e englobam dos ritmos de maracatu, coco, ciranda, entre outros.

A Casa de Cultura Vivarte está localizada na Rua Tapajós, 508, Bairro Vila Ivonete. O telefone para contato é: 9957-9413 ou 9957-9421.

*Matéria publicada originalmente no Jornal Página 20
*Visite também o blog do Grupo Vivarte

domingo, 24 de outubro de 2010

silencio


... um estrangeiro passageiro de algum trem.

quarta-feira, 25 de agosto de 2010

Ficção

Agora eu escrevo realidades: AQUI.
Amigos, seguidores, leitores, anônimos, inominados, nomeados e nominados do meu coração. Venho por meio deste, avisar que a vida tem acontecido com maior vigor aqui: Confraria dos Últimos Românticos. Lá, estou tentando alguma intensidade fictícia mais real, recheada de algumas desvirtualidades de outrora, sobre aquilo que nos move e nos remove de si e de qualquer outro universo: o amor. Histórias, contos, causos, descasos e outras decepções alheias e esperançosas.

Quanto a este blog de cá, dói-me vê-lo se amontoar pelos entulhos de lixo eletrônico perdido por esse mundão de meu Deus. Ah, que vontade de ficar aqui por mais um instante! Até que tenho planos, minha gente! Será que é suficiente me justificar por conta do tempo? É que mudei de vida, de casa, de trabalho, e me perdi um pouco de mim. Ou tenho me achado um pouco mais (o que me torna ainda mais perdida).

Quero novas cores, tons e versos. Novos enredos e personagens. (E, quem sabe, até outro instrumento pra tocar). O momento me exige um novo nome, slogan e design. A busca é aquela mesma busca interminável de sempre: a busca por alguma coisa para buscar, a fim de acalmar o espírito, o coração, a mente e sei lá o quê.

E vamos cantar que a vida é bela!

Ah, há também alguns devaneios desconexos aqui: @gisellexl, via twitter.

segunda-feira, 28 de junho de 2010

teatro dos perdões

O que é demais
Nunca é o bastante
E a primeira vez
É sempre a última chance

Enquanto houver amor, amor, haverá vida. E eu estarei a te esperar. Há dias que eu coloco o som alto para não ouvir meus pensamentos. Meus auto-insultos e auto-reprovações. Porque, você sabe, eu me odeio. Vejo todo um mosaico de pequenas mentirinhas. Mas quando há você, há algo de verdade, algo de sonho que é realidade. Algo que motiva e impulsiona. Quero o Benjamin, o Bento e o Dante. O João, quem sabe. A Naima não me cativou. Mas por você, amor, tudo é cativo. Tudo é ordem e motivo. Mudou minhas leis, os giros do meu mundo (que estava quase parando, como num Eclipse). Me ouviu. Me olha com amor. Eu acredito e sempre acreditarei. Não há nada e nem ninguém de amor tão singelo, tanto, que deixa escolher e ser um ser assim tão... (de textos incompletos e meio alheios ao que é ou não de interior)


Ninguém vê onde chegamos
Os assassinos estão livres
Nós não estamos...


E eu escolho ser uma mulher do meu tempo. Uma mulher que tem a idade que tem. De uns vinte e poucos anos. De umas infantilidades sem nome exato. Umas incertezas incertas. E uns sonhos abstratos. Às vezes, desejo que maturidade viesse numa embalagem plástica, que a gente comprasse na farmácia da esquina, como compra Neosaldina (minha grande companheira de guerra). E tomaria, sim, doses extras para entender que maturidade é, apenas, ver que as coisas não precisam ser tão perfeitas. Elas são o que são. E é só isso o que precisam ser. “O mundo é feito para os que não pensam. Os inteligentes só se ferram”.

Não sou perfeito...
Eu não esqueço
A riqueza que nós temos
Ninguém consegue perceber

Mas eu serei uma mulher do meu tempo. Da idade que tem. Nem madura, nem infantil. Nem démodé, contemporânea ou pós-moderna. Apenas uma mulher que acredita na certeza do amor eterno. E assume riscos. Eu assumo os riscos. E sou uma mulher realizada: fui à África, não fiz um passeio de balão, não nadei por entre tubarões brancos nem vi manada de elefantes bebendo água. Mas sou uma mulher realizada. E isso se deve às minhas crenças. Às chances acumuladas que me dou para (não) errar. Amo porque posso e sou capaz. O alvo e a artilharia já estão entregues. Mas, nin-guém-con-se-gue-per-ce-ber...

E de pensar nisso tudo
Eu, homem feito
Tive medo
E não consegui dormir...

*Em destaque trechos de Teatro dos Vampiros - Renato Russo

terça-feira, 1 de junho de 2010

Havia você e o rio

Querem saber / Como é estar aqui / Lembrar e esquecer / Como sobrevivi
Querem saber Se já me sinto bem / Eu digo: melhor...
(Me explica)


Fale-me de Sabino e Pessoa, enquanto me embriago de saudade. “Amava os circos, os palhaços e as prostitutas, os bêbados, os mendigos e os poetas”. Eu também os amo. Todos. E preciso, a cada dia, de uma dose de arte da rua. Daquela que se vende em cada esquina e própria para o consumo imediato. Fale-me de Sabino e Pessoa, enquanto eu construo casos e descasos e projeto outros contos (de bruxas e fadas). E tudo entra num ritmo singelo de viver. Vou num leilão, ainda não na missa. O pedido ainda não foi atendido. A promessa fica pra depois. Eu me embriago de falta de espaço, do show que esgota o ingresso, do filme que já saiu de cartaz. Corre. Anda. Pensa menos. (Descubro outros prazeres de quando a mente fica em silêncio). Fale-me de Sabino e Pessoa. Drummond, às vezes, pode ser. Lispector está um tanto distante (ainda bem), Veríssimo, nunca mais. As mandalas passeiam por entre outras mãos, e por outros dedos, ganham outros tons (e ritmos). Nunca mais aquele quadro em branco. (Não tenho lápis de cor). Fale-me de Sabino e Pessoa. Daquele que nasceu homem e morreu menino. Daquele anônimo dos heterônimos. Me embriago de paciência. Ubuntu, Windows, das coisas que destoam. Neruda existe. Mas ainda não aqui. Werneck publicou a coletânea de crônicas que se tornaram as minhas preferidas (me mostrou um mundo possível). Ele esteve aqui, dia desses. Não o vi. Devia ao menos agradecer. Devia também, dizer a Galdino, um obrigado por aquela música que povoou alguma ausência. Eu também diria isso a Alanis. (Minha professorinha de inglês). Desculpa, mas às vezes, eu literalmente transbordo nas conversas. Eu olho, mas não escuto. Portanto, fale-me de Sabino e Pessoa (vêm, em anexo, porções de alegrias disfarçadas de doce de leite e algodão). Falando nisso, preciso de mais alface, yoga e ameixas.

na verdade continuo sob a mesma condição / distraindo a verdade, enganando o coração (Antes que seja tarde).

quarta-feira, 28 de abril de 2010

reflexos, impressões e outros 'enganos'


Os dias passam rápidos. Mas passam mais rápidos ainda para os que correm. Há árvores de todas as cores nas ruas de Belo Horizonte. Dias e noites são extremamente barulhentos. E nós também somos feitos de silêncios; de preto no branco. Novamente, suspeito que esteja fazendo o caminho inverso. Mas dessa vez, não terei pressa pra ter certeza. Afinal, as certezas também mudam com o tempo, assim como o certo, que também é extremamente perecível. E eu sou a favor das impressões, dos reflexos e outros enganos. Não ouso arriscar o meu prazo de partida. Se viver é que não é preciso, talvez eu nem tenha navegado ou voado tanto, mas sinto, apenas, minhas satisfações cada vez mais inocentes, afinal, eu não prezo mais pela auto-suficiência ou por honrar histórias do quadrinho anterior. Escolho o jogo cuja regra é deixar a vida afetar por não haver outra opção além do permitir. É fácil viver momentos inesquecíveis e esquecê-los. Há algo em mim mais forte que sentimento, que transforma saudade em derivado do verbo pensar. Se uma pergunta é que responde a outra, apenas longe delas é que entendo as magias amazônicas, as manias de sinceridade com si próprio. As pessoas se benzem frente às igrejas – e até aos santos desconhecidos – como num coral regido pela fé. Em Belzonte, pensamentos caminham n’outro tempo. No tempo em que se torna coletivo o que era de um sujeito só. Mas tudo é óbvio, mesmo que surpreendente. (Neste caso, a recíproca é verdadeira). A lei de agora é morrer de rir. E, se for pra chorar, que seja junto, quando meu apelo se recobre pelo “Nada além do que satisfaz”... Enquanto isso, acordes Chicopopianos voltam a soar.

“Ah, como ela sabe quanta tristeza cabe numa solidão...”

quarta-feira, 3 de fevereiro de 2010

Um novo tempo


Um novo lar

É preciso ter espaço para O sentir, sem julgar, sem condenar. O sentir que não se explica, que não se compreende, que é irracional e burro. Peço desculpas, sim, e me volto a um mundinho de máscaras e fantasias. Desapego e desprendimento: essas seriam as palavras, as senhas de entrada.

terça-feira, 12 de janeiro de 2010

conclusão

eu sou mesmo uma insuportável. se todas as atitudes se estampam na cara ao longo do tempo, devo ter meio-mundo de lágrimas covardes fazendo piadas sem-graça; uma constelação de palavras que jogam cartas trocando piscadelas falsas e algumas infinitas cenas em câmera lenta com o botão do replay travado: eu as revejo, dia e noite. Ah, se eu soubesse simplesmente como deixar ser... Ah, se o choro não fosse simplesmente engolido como um paracetamol que me dá alergia. Se eu soubesse o segredo de deixar o abraço se abrir. E que inveja eu tenho dos que simplesmente falam; dos que traduzem o que se passa por dentro, dominando frases, situações, organizando pensamentos. E por favor, não me diga que tenho sorte, que sou bonita, talentosa ou coisas do tipo. Seria conveniente apenas às prostitutas (o que somos, uma vez na vida, somos, e com prazer). Além disso, meu amigo, são fatores que se perdem com o tempo. E ajudam na conquista somente do inútil, do que pouco me importa, então, só me vem a atrapalhar. Eu vejo aí uma velhice turbulenta. Ou a maturidade só piora tudo ou estou fazendo o caminho inverso. A cada dia tudo fica mais difícil, complicado e sem graça. As relações, as comunicações. E me vejo me perdendo, perdendo o que tanto tento cativar... Já não faço questão de orgulhar a ninguém (porque um dia eu fiz, e consegui, e hoje não faz a menor diferença). Dessas virtudes que atraem mau-gosto, eu tenho coleções. Os interesses, as conveniências, deixam tudo superficial, que é temporário, não-verdadeiro, falso, mentiroso... Que é traidor e rasteiro. Se eu demoro para perceber, ou se simplesmente não percebo. É porque eu acredito, ou acreditei, ou acreditava.


"Ela é quase tudo o que sonhei
E eu sou quase aquilo que sempre evitei
E falhei, sim, falhei"
(Quase, Pato Fu)

segunda-feira, 4 de janeiro de 2010

Vida daninha


Mofou. Perdi uma caixa inteira de colares, porque simplesmente mofou. Foi tudo direto pro lixo. E, amigos (em especial as amigas) concordem comigo: não é fácil jogar uma caixinha inteirinha de colares no lixo. Foi-se. Peças de sementes (as jóias da Amazônia) têm essa desvantagem.


E aí eu percebi que tudo, até o meu blog, já estava sendo afetado por (minha) vida daninha: espontânea, caracterizada por uma inconveniência às vezes necessária; com grande poder de (rápida) adaptação e estruturas para dispersão. Fui à África, voltei, o ano se passou, e nada de post novo. Minha gente, a vida agora é outra.

Meu intercâmbio foi como o previsto: surpreendente! Foram as quatro semanas mais parecidas com quatro dias que alguém poderia viver. E eu nem deveria ousar descrevê-lo, unicamente pelo clichê de não ter palavras.


Tenho medo porque sei que, de qualquer forma, eu vou reduzir, diminuir, simplificar uma das maiores aventuras e emoções que já vivi: as diferenças, as semelhanças, as novidades, os mistérios, e eu acompanhada apenas da minha ansiedade e fé. Uma língua nova, um país novo. Um outro continente, uma outra cultura, uma outra casa, uma outra família (de amigos, de companheiros, de tudo).

Não fiz todos os passeios que desejei (safáris, mergulhos, vôos...), afinal, o turismo ficou mesmo em segundo plano. O intercâmbio foi pra estudar inglês e, diga-se de passagem, viajar, mudar, sair, literalmente. Não apenas encontrei ou conheci novas pessoas, mas convivi com gente de vários lugares do mundo: Rússia, Alemanha, Arábia Saudita, Japão, Coréia do Sul, Turquia, França, Itália, Peru, Colômbia, Angola, Zimbábue... E, claro, muitos brasileiros!

Pessoas diferentes, com outros estilos de vida, outros costumes e noções de mundo, todas em situação semelhante (na mesma cidade, na mesma escola) e com o mesmo objetivo: aprender inglês e ter outras experiências de vida; crescer; aumentar o leque de possibilidades; se conhecer; renovar o acervo de perguntas e encontrar respostas mais claras: “é possível” – foi a que eu encontrei.
A África do Sul, Cape Town, certamente foi uma ótima escolha, rápida e sem muita reflexão. Eu a escolheria novamente.

A pessoa é mesmo coisa fascinante. Dentro de todas as suas diferenças, crenças, contradições e defeitos. A pessoa é mesmo coisa fascinante. O que destrói é mesmo a falta de verbo, de comunicar. E conhecer – renovar – e tentar entender tem sido meu esporte favorito.



Fotos: Todas elas de lá!

sexta-feira, 23 de outubro de 2009

Dia-a-dia

Justiça

Me falaram para procurar a justiça, como se ela fosse uma pessoa. Logo, eu faria uma ligação e pronto: teria encontrado a justiça. Decidi deixar pra lá, mesmo não tendo tanta certeza de pra onde as coisas vão quando a gente resolve deixar pra lá. Não que eu aceite ou desista fácil, não, nada disso. É que eu faço um exercício diário para não me aborrecer com pouca coisa.

Para isso, uma das lições é compreender que nada nasce com valor próprio. As coisas – tudo na vida – têm o valor que cada um de nós – seres nada confiáveis – dá a elas. E a gente exagera justamente naquilo que não deveria ter valor nenhum, justamente naquilo que o alheio já dá valor demais. E gente se influencia e vai junto. E aí, aquelas coisas completamente banais nos atingem de forma constrangedora, nos estressa, tira o sono. Não que eu seja adepta ao “foda-se e seja feliz”. Na verdade, eu nem gosto muito desse negócio de mandar qualquer coisa se f.... É o tipo de “palavrão” ou “expressão de raiva” mais besta e inútil que existe. Aliás, eu acho que não existem muitos palavrões inteligentes e úteis por aí.

O engraçado é que eu decidi não me importar – e deixar pra lá, e nem procurar a justiça – depois de ter ouvido pela segunda vez exatamente a mesma coisa, só que, dessa vez, com um nível de gentileza um pouco mais raro. Quando será que o mundo vai entender que a melhor forma de influenciar, fazer mudar de ideia, convencer alguém é sendo gentil?!

Eu entendi a situação – um tanto quanto injusta, é verdade – me convenci, deixei pra lá e ainda voltei pra casa feliz, afinal, fui tratada de forma exemplar numa instituição pública (na Ufac, veja só!).

Afinal, que importância tem um Certificado de Conclusão de um Curso de Ensino Superior?! Que importância tem um registro de jornalista no Ministério do Trabalho que vai permitir, por exemplo, que eu me sindicalize?! O que custa esperar pela prova do Enade e fazê-la? Pra quem não sabe, o Enade é o Exame Nacional de Desempenho de Estudantes, que integra o Sistema Nacional de Avaliação da Educação Superior. Eu fiz a prova no início do curso e agora, farei novamente. A moral é saber se aprendemos alguma coisa na faculdade, dependendo disso, o Curso ganha uma nota e ficamos sabendo se ele presta ou não. A prova é incluída na grade do curso, portanto, não posso colar grau sem antes fazê-la.

E se eu cursei o ensino superior, faço questão de ter o registro de jornalista diplomada, mesmo podendo ter do outro tipo. Não vou entrar na discussão da obrigatoriedade ou não do diploma, tenho uma opinião bem particular em relação a isso, e o meu blog não é pra discutir idéias, argumentos, política, seja o que for... Meu blog é apenas um espaço para sentimentos, impressões e outras coisas inúteis assim. E realmente, tenho coisas melhores para me preocupar neste fim de ano. E a previsão do tempo é: muito frio na barriga.

Catando coquinho


Eu tava lá, vendo a meninada toda se lambuzando de tanto comer coquinho, e como não sou nenhum pouco invejosa, quis comer coquinho também. Ah, quis sim! Mas como eu quero ser "A" independente, fui lá no pé buscar o meu próprio coquinho. Foi então que eu compreendi perfeitamente a moral da expressão “vá catar coquinho!”. Maninho, nunca imaginei que catar coquinho fosse algo tão chato e difícil. Os coquinhos ficam camuflados na grama, e a gente tem que ficar passando a mão na terra, porque entre as dezenas de coquinhos podres pode ter um que preste, e não dá pra ver, procurar com o olho, tem que ficar passando a mão! Aff! Nesse dia, eu tive que ficar só olhando mesmo...

Curso Abril, Maio, Junho...

A Editora Abril divulgou o número de candidatos inscritos no Curso Abril de Jornalismo. São 3272 candidatos espalhados por todo o Brasil, com exceção do estado do Amapá. Do Acre, veja só, existem DOIS concorrentes. Bem, eu sei que um sou eu, na categoria texto, que é a mais disputada, com 2144 inscritos. Além desta, existem as categorias Mídias Digitais, Vídeo, Fotografia e Design. O fato é que estou “super-hiper-mega-curiosíssima” pra saber quem é o “2”. É que essa pessoa deve ser, no mínimo, alguém que, assim como eu, quer qualificar o seu trabalho e se informa e busca alternativas para isso. Enfim, boa sorte pra gente! Seja lá o que aconteça, eu acho que nem poderei participar das próximas seleções... E isso nem me aflige, de verdade. Vou me preparar mesmo é para enfrentar o frio na barriga, já previsto e confirmado.

Eu sei que...

Se chatear duas vezes pela mesma coisa é o mesmo que errar duas vezes. E, como vocês sabem, errar é humano, mas, errar duas vezes... ;)

quarta-feira, 2 de setembro de 2009

O mundo tem mais cor

Ou: uma lente muda tudo!


- E ai Giselle, me conta, o que você tá sentindo? O que você tá achando?
- O mundo tem mais cor.

Foi o que eu respondi ao doutor depois que ele colocou uma lente de 6 graus para miopia no meu olho esquerdo. É verdade que eu ficava imaginando como seria ter os dois olhos funcionando, mas não que a diferença seria realmente assim tão grande. O fato é que eu tenho um caso meio esquisito. Meu olho direito é literalmente direito e funciona incrivelmente bem, a ponto de um médico até me parabenizar por isso. Mas meu olho esquerdo é totalmente desregulado e me proporciona apenas a visão de vultos, luzes e cores embaçadas.

Uso óculos desde criança, mas logo “dei fim” neles porque comecei a usar aparelho nos dentes. Meu círculo de convivência não permitia que uma criança que usasse óculos e aparelho nos dentes fosse feliz, livre de alugações e piadinhas sem graça. Coisas de criança, sabe? Na época, os óculos nem fizeram falta. Um tempo depois de tirar o aparelho, voltei a usar óculos. E aí, a coisa estranha foi detectada. Me consultei com dois médicos e cada um sugeriu algo diferente:

Opção 1, médico X: Usar uma lente de contato, apenas no olho esquerdo, para corrigir a miopia e o astigmatismo.

Opção 2, médico Y: Usar um óculos. No olho esquerdo (o olho que não presta), sem grau nenhum, plano. E no olho direito (o olho bom), um grau de 0,5, já que é o olho que, de fato, uso, portanto, ele acaba ficando sobrecarregado e daí a dor de cabeça.

Fiz o mamãe-mandou e optei pela opção 2. O médico Y argumentou que seria muito difícil eu me acostumar com a lente, pois pro meu caso ela não seria gelatinosa, seria dura, menor que o olho, desconfortável. Eu precisaria de um esforço talvez não muito necessário, já que enxergo muito bem com o olho direito. Até fiz um teste para usar a lente de contato, mas não foi uma experiência muito feliz. Meus olhos despejaram mais lágrimas do que quando eu tive a minha primeira crise-existencial-amorosa e em menos de dois minutos a lente simplesmente se jogou para fora do meu corpo.

Passei dois anos usando óculos. Depois, numa consulta de rotina, para revisão, o grau do olho bom aumentou para 0,75 e o olho ruim continuava ruim. Diz o médico Y que é normal que o grau do olho inicialmente bom aumente com o tempo e coisa e tal... E eu fiquei com a preocupação: o olho bom vai um dia chegar a ser tão ruim quanto o olho ruim?!

Algum tempo se passou e uma dor de cabeça voltou a reinar nos meus dias. Decidi me consultar com um terceiro oftalmologista. Dessa vez, um japinha engraçadinho, novo na cidade. Expliquei o meu caso. Ele me examinou e confirmou o que eu disse:

- É, você tem uma grande diferença de grau entre olho e outro.
- Pois é...

Então, iniciamos uma série de exames. Máquina aqui, máquina acolá, colírio aqui, colírio acolá. O japa examinava, cruzava os braços, colocava a mão no queixo, olhava pra cima e ficava pensativo. E eu continuava com aquele ar de “pois é”.

Andou pra lá, andou pra cá. Até que o japa decidiu! Disse que deveríamos fazer um teste. Abriu uma gaveta, puxou um pacotinho, tirou uma lente e colocou no meu olho. Pisquei, pisquei, pisquei... De repente, o mundo ganhou mais cor, mais luz, contraste! Ele me deu a lente de presente e disse pra usá-la durante três dias e, se a minha vida melhorar, que eu volte lá e encomende uma com grau mais específico. Neste caso, a lente não é tão desconfortável porque corrige apenas parte do problema. Mas muda tudo!

Voltei para casa rindo à toa. Fiquei deslumbrada e até emocionada com tamanha mudança. Quanta coisa eu estava perdendo! Mas, como alegria de pobre dura pouco, estava eu vendo Tv, deitada na cama, tão tranqüila, feliz e confortável que até esqueci que usava uma lente. Cocei o olho e, imediatamente, o mundo perdeu o brilho. A lente tinha escapulido, catei, caiu, catei novamente, caiu, embolou na cama, catei, mas dessa vez, ela me voltou toda dobrada, embuluada, miúda. Molhei, tentei consertar, colocar de volta, mas nem...

Diz a minha mãe que pareço ter ficado com o olho maior que o outro. Mas esse seria o menor dos problemas. Aliás, eu disse a ela, eu sempre achei mesmo que tinha um olho maior que o outro, sempre me achei meio vesga, sei lá, mas é o tipo da coisa que eu sei que ninguém nunca vai me confirmar. Mas pelo menos agora eu sei que o mundo tem mais cor do que eu imaginava. E isso é uma coisa que só eu pra concluir comigo mesma, afinal, ninguém nunca iria me dizer isso também.

quarta-feira, 19 de agosto de 2009

Melhor que chocolate

Uma delícia o gosto desse sorriso que se abre, miúdo e discreto e talvez até meio perdido, quando estamos sozinhos navegando pelas páginas cotidianas da vida virtual em busca sabe-se lá do quê...
Aliás, em busca exatamente disso, de algo que nos faça sorrir de surpresa e com vontade de verdade.

Delícia de abraço, delícia de carinho, delícia de poesia que vem lá de longe, sem a gente esperar, e se faz presente bem mais que muito presente...

eu aproveito para me lambuzar toda.

coisas de ipê amarelo (que antes de ter trilhado as linhas de um poema, eu nunca tinha parado pra observar); coisas que aprendi com uma moça que tem um caso poético, e que na verdade, só tendo um caso como esse pra entender e explicar.

Wal, querida, que sorte a minha ter uma amiga-poeta-que-cinema como você!

é que eu arrisco um verso no meio da tarde e, à noitinha, ganho de volta um poema inteirinho.

sábado, 15 de agosto de 2009

Odeio

Amor... Você já amou? Horrível, não? Você fica tão vulnerável. O peito se abre e o coração também. Desse jeito qualquer um pode entrar e bagunçar tudo. Você ergue todas essas defesas. Constrói essa armadura inteira, durante anos, pra que nada possa te causar mal. Aí, uma pessoa idiota, igualzinha a qualquer outra, entra em sua vida idiota. Você dá a essa pessoa um pedaço seu. E ela nem pediu. Um dia, ela faz alguma coisa idiota como beijar você ou sorrir e, de repente, sua vida não lhe pertence mais. O amor faz reféns. Ele entra em você. Devora tudo que é seu e te deixa chorando no escuro. Por isso, uma simples frase como "talvez a gente devesse ser apenas amigos" ou "muito perspicaz" vira estilhaços de vidro rasgando seu coração. Dói. Não só na imaginação ou na mente. É uma dor na alma, no corpo, uma verdadeira dor que entra-em-você-e-destroça-por-dentro. Nada devia ser assim. Principalmente amor. Odeio amor.

Neil Gaiman