(...)
e decidi que não vou mais ficar me remoendo pelo passado, lembrando dos momentos ultra-mega-felizes que tive, mas que nunca voltarão, nem tentando entender porquês que nunca terão respostas.
Muito menos continuar deixando pra ser feliz no futuro, quando meus supostos planos estarão supostamente sendo realizados e eu estarei supostamente realizada e feliz.
Em alta velocidade. Passando pelos sinais vermelhos. Entrando na contra-mão. Ao lado da janela, sentindo o vento bater no rosto e o meu cabelo dançar e todo mundo cantando sem se preocupar com o tom.
A trilha é de rock nacional dos anos 80. Toca, justamente porque sabe-se que eu gosto do rock nacional dos anos 80. E olha que eu nem precisei pedir ou avisar.
A gente segue cantando Raul e Legião. Levantamos o braço e vibramos pelo momento, porque estamos exatamente felizes. E então, quando a música acaba, a gente aperta a mão um do outro e diz com a voz já rouca: “CARALHO! ESSA FOI FODA!!!”
Porque foi mesmo, porque é desse tipo de coisa que eu não quero esquecer: do vento batendo no meu rosto; as ruas, casas e calçadas passando – como tudo passa:
numa velocidade que eu não me permite definir suas cores e contrastes; e eu cantando, e meu canto sendo acompanhado por outros que estão ali curtindo de verdade, sem medo de desafinar.
E eu senti como se estivesse voltando atrás, recuperando o que não vivi. Como se eu pudesse me desligar das minhas preocupações para o futuro, e então viver completamente o presente...
sem preocupar com os horários, com as palavras (ou com a ausência delas), com o meu jeito, com as minhas grosserias, dúvidas, suspeitas, e outras ocasiões...
É como se o que eu havia aprendido sobre a vida estivesse acabando de começar. Mesmo assim, não me sinto chegando atrasada à festa, porque é como se eu também fosse atração...
E eu não quero saber de quem já está indo, quero mesmo é ficar com quem está chegando comigo ou que ficou à minha espera e sorriu com a minha chegada.
*das coisas que precisam ficar registradas não só na minha memória (que é humanamente cruel).