terça-feira, 6 de janeiro de 2009

Centrífuga, chopp e “Mim ligue!”

Eu vou começar esse texto dizendo que vou começar esse texto dizendo que amo o meu namorado. Ele tem mais habilidade do que eu na cozinha (é certo que eu ainda não tive a certeza disso, mas é verdade que ele sabe se virar melhor), um paladar mais aguçado (sabe dizer o que tem na comida, ao contrário de mim, que sinto o gosto do que você disser que tem lá, portanto, posso comer carne de porco achando que é peixe, acho a comida insossa se você disser que falta sal, etc) e, o melhor de tudo, na hora da conquista não foi criativo o suficiente para me passar bilhetinhos ultra-românticos dizendo: “mim ligue!”.

Não sei se o texto do post anterior queimou o meu filme; se mostrou que é possível viver e ser engraçado com a própria falta de sorte, erros e fracassos; ou se eu devo concluir que, se há alguma boa desenvoltura por aqui, é certamente com as letras (e não com a cozinha, com a música ou com prováveis receitas que misturam isso...). Diz o Helder que o Chris Rock, do “Todo Mundo Odeia o Chris”, ganha a vida – e dinheiro - fazendo piada das “tragédias” que aconteciam na adolescência dele. E assim, hoje ele é um dos mais famosos atores e comediantes da TV. Eu não pretendo ser atriz ou muito menos comediante de TV, claro, mas fico um tantinho feliz em saber que há um bom futuro nisso. Além disso, “Everybody Hates Chris” é um dos poucos – senão o único – seriado que eu paro para assistir com gosto.

O fato é que eu ando traumatizada com a centrífuga. Tenho medo de, mis-te-rio-sa-men-te (para se ler assim, pau-sa-da-men-te), aparecer um caroço na cenoura, na beterraba, no abacaxi! E aí, enquanto eu estiver lá encantada com a produção de mais um super-suco exótico (tem hífen aqui?), a centrífuga simplesmente fazer aquele estrondo novamente, e um caroço que surge do nada, fazer voar todas as peças e tudo ir pras cucuias. Por causa disso, tenho matado a minha vontade de beber sucos exóticos por aí, em bares e restaurantes. Não tem aquele gostinho do “fui eu que fiz”, mas custa apenas alguns reais e não corro o risco de estragar uma centrífuga. E o mais importante: eu vou conseguir bebê-lo.

E num desses momentos em que eu estava saboreando um super-suco de cenoura com beterraba, eis que eu tenho o prazer de sentir o desgosto da falta de habilidade não com os sucos, mas com o Português. E nesta ocasião, eu e o meu super-suco de cenoura com beterraba estávamos diante de três chopps de responsabilidade do Ulisses, da Lidiane e da Priscila (ah, duvida que eu sou capaz de beber suco enquanto outros tomam chopp? Pois é, como eu sabia que haveria quem duvidasse, fiz até uma foto):

O que aconteceu foi o seguinte: estávamos lá – cada um no seu quadrado e felizes. Eu, com sono. Quando a gente estava se preparando para ir embora, o garçom veio aos passos lentos e discretos e me passou um bilhetinho miúdo. Veja só, era a primeira vez em toda a minha vida que eu recebia um bilhetinho num restaurante. Abri, li, passei meio segundo com o bilhete nas mãos e o joguei na mesa (ironizando, inconscientemente, a discrição do garçom, coitado...).

E lá estava escrito o que qualquer mulher quer e precisa ouvir. Lá estava escrito, com todas as letras, vírgulas e verbos, aquilo que é a chave para o homem se tornar irresistível. Lá, naquele bilhetinho de meio centímetro, estava escrito em caneta azul e letras turvas, um encantador “MIM LIGUE”, acompanhado de um número de telefone. Exatamente, MIM LIGUE! O Ulisses não perdeu tempo e disse pro garçom: “pô cara, diz pra ele aprender a escrever, que ela liga!”. (Tudo bem que depois a gente ficou na dúvida se o garçom entendia que o bilhete tava errado, nessas alturas, já se desconfia de tudo). “Mandar um bilhete assim para uma “jornalista”, o cara teve sorte... Liga pra ensiná-lo a escrever, Gisa...”, disse a Priscila... E aí a gente foi embora.

E eu fui pensando: será que alguém ligaria? E o que custava escrever algo como: “Minha flor, ‘mim ligue’”, acho que iria ser menos feio (embora eu não ligasse mesmo assim). Mas se o cara é meio analfabeto, precisava ser também grosso e autoritário? Nessas horas, eu vejo como o mundo está realmente perdido. Afinal, se as pessoas não se preocupam em ser carinhosas e inteligentes nem na hora da conquista, onde haverá amor?

Eu não sei cozinhar, mas nem por isso ando por aí fazendo os outros experimentarem as minhas receitas. Quem sabe o cara pode até ser um expert nos sucos exóticos, mas me mandar um bilhetinho curto, grosso e errado, não vai despertar nem um pouco o meu interesse. De qualquer modo, o “mim ligue” foi piada por alguns dias. E depois que eu soube que o autor do bilhete foi o filho do dono do restaurante, tudo fez sentido. É que exatamente o nome daquele restaurante tem grafia errada, trocaram um “s” por um “z”. Não é lá um erro gravíssimo (na verdade, é sim), e com a reforma da Língua Portuguesa, eu já não sei o que é certo ou errado. Mas o chopp lá até que é bom. O suco? Hum... Quando eu aprender a manusear a centrífuga, tenho certeza que vou preferir o meu.
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obs: para evitar qualquer desentendimento, transtorno, desconforto, incômodo, ou o que for, eu quero deixar claro, claríssimo, que eu não ligaria em hipótese alguma! Ok? Apesar de você ser apaixonado pelas italianinhas... hahaha.

11 comentários:

Helder Cavalcante Jr. disse...

É, pelo visto "everybody hates Gisa". Hahaha...

O autor disse...

Opa, opa! Não só pelas italianinhas! Também pelas francesinhas, e por três ou quatro americaninhas.

Mas eu gosto mesmo - de "verdade verdadeira", fora das telas de cinemas e das páginas de livros - é das acreaninhas que tomam suquinhos exóticos enquanto todo mundo enche a cara, que queimam os dedos na sanduicheira, e que não sabem usar uma centrífuga*... hehe.



*tá bom. Eu sei que a culpa foi daquele pêssego sem escrúpulos. Sem escrúpulos, mas com caroço.

e-Chaine disse...

Cá entre nós (NÃO, não é 'merchan'), toda paixão é burra, muito embora não seja analfabeta.

Histórias legais e desastrosas, gostei.

Abraço.

Andréa Zílio disse...

Adoro tuas histórias, melhor, adoro como as escreve....bjs

Anônimo disse...

Rimos muito... depois vo te contar uma parecida q aconteceu aki em casa... hahahaha
bjs

Anônimo disse...

Da próxima vez tente beber chop, pelo menos vai doer menos na hora do "bilhetinho"...

Anônimo disse...

Huahuahua!

Bota criatividade nisso.
Nunca antes pensei em mandar um bilhetinho com Mim liga.

Boa sorte com a centrífuga da próxima vez, e com a geladeira tb, rs.

Nattércia Damasceno disse...

A primeira carta de amor que eu recebi veio endereçada a "Anatacie". Nunca respondi.Esse povo não leva a comunicação a sério, Gisa...

Thalyta França disse...

é ele mesmo heuheuieh nossa foi mto bom estudar ali.o moises é gente boa p caramba ;] é bom tê-lo como amigo mesmo.bem legião não é meu forte deu pra sacar né rhiuhaiuhai mas respeito o cara tem historia e fez historia.

Álefe Souza disse...

"Mim liga, mim manda um telegrama...!!!" Teria ficado até mais bonitin]ho né?? KKKKKKKKKK! Logo para uma jornalista hem?

Bjs

Kaline Rossi disse...

mim ajulde! haha