segunda-feira, 18 de agosto de 2008

Bianca por entre os dedos

Tentava camuflar o livro entre os dedos miúdos. Talvez por vergonha do que lia (afinal, hoje em dia, você pode julgar negativamente quem lê Paulo Coelho ou ser cínico e provocador e dizer que odeia livros cabeças para quem traz um Foucault) Ou, talvez para despertar maior interesse daquela que acreditava vigiá-lo secretamente. Mas não precisava, Bianca era toda, completamente, perfeita curiosidade.

E ele o lia por entre a multidão quase invisível aos seus olhos discretos e interessantes. Ela era capaz de notar e imaginar cada vida, cada história, cada medo e cada sonho que lhe rodeavam. Bianca era esperta ao que acontecia à sua volta. Eram raras as vezes em que se pegava se sentindo só. Ela olhava pés e andares, mãos e gestos, bocas e verbos. E ela os lia como quem desvendasse uma selva num jogo de videogame, e sempre ganhava.

E ele, ao contrário, fechava-se nas entrelinhas de um outro mundo. Aparentemente, alheio ao de Bianca. Mas não havia problema algum. Era isso o que Bianca queria. Ela queria as cartas. As cartas anônimas sabe-se lá se enviadas ou recebidas. Bianca se satisfazia com o impopular, impróprio e improvável. A vitória era essa afinal, e não escaparia pelas entrelinhas dos seus dedos.


(Só porque a orelha dela esquentou)

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