segunda-feira, 25 de agosto de 2008

Lembranças do quê?


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E lá vou eu embarcando em mais uma daquelas arrumações na vida. Daquelas em que a gente espalha tudo e aos poucos vai separando o que presta do que não presta, e o que presta, mas não queremos mais do que não presta, mas queremos mesmo assim. E haja espaço. Aliás, é para isso que servem as arrumações: para se ganhar espaço. Sei que não sou a única a sofrer da mania de querer guardar tudo e não ter mais onde colocar nada. Andei até reabrindo umas caixinhas e encontrando uma porção daquelas coisinhas que a gente guarda como lembrança de alguma coisa. Um momento, uma pessoa, uma amizade, um amor, uma emoção, um medo, um segredo, uma fase, um dia, uma noite, uma conquista, uma derrota, uma despedida, um encontro, um desencontro, enfim, seja lá o que for... Um anel prateado e largo. Um anelzinho pequeno, dourado meio desbotado e um outro com uma pedra violeta. Um ímã de geladeira. Um carefree. Uma florzinha de canudo. Um origami azul minúsculo. Um crucifixo de madeira. Uma casinha verde de Banco Imobiliário. Uma tampa de garrafa e o rótulo de outra. Uma pulseira quebrada. Um apito. Um broche. Um brinco sem par. Um nariz de palhaço. Uma correntinha enferrujada. Um pedaço de doce de abóbora plastificado (?). Um pingente amassado. Um pedaço de guardanapo de papel. Uma ficha telefônica. Um pequeno sabonete em formato de sol... Enfim, são tantas coisinhas, são tantas as lembranças... Mas, lembranças do que mesmo? Por tanto tempo, as lembrancinhas estiveram guardadas, com tanto amor e carinho, por tanto tempo, tempo suficiente para eu esquecer o que elas deveriam lembrar. Juro que eu me esforço, fecho os olhos, seguro o objeto com força, mas não dá. Eu não lembro. O prazo de validade da “lembrancinha” venceu, sei lá. Rever tudo isso até que era para ser uma coisa bonita, saudosista e tal... Mas, me rendeu apenas uma limpeza e uma nova arrumação. Ficarão guardadas por mais tempo. Quem sabe um dia eu lembre, mesmo que seja da coisa errada, ou não, e nem faz diferença. De qualquer forma, é legal tê-las lá, ter aquelas lembranças mesmo não lembrando o que elas deveriam lembrar. Não é nada fácil se livrar disso. Por isso, as minhas lembranças – sejam lá do que for – continuarão guardadas com o carinho que merecem, por um tempo que só o tempo vai definir.

segunda-feira, 18 de agosto de 2008

Bianca por entre os dedos

Tentava camuflar o livro entre os dedos miúdos. Talvez por vergonha do que lia (afinal, hoje em dia, você pode julgar negativamente quem lê Paulo Coelho ou ser cínico e provocador e dizer que odeia livros cabeças para quem traz um Foucault) Ou, talvez para despertar maior interesse daquela que acreditava vigiá-lo secretamente. Mas não precisava, Bianca era toda, completamente, perfeita curiosidade.

E ele o lia por entre a multidão quase invisível aos seus olhos discretos e interessantes. Ela era capaz de notar e imaginar cada vida, cada história, cada medo e cada sonho que lhe rodeavam. Bianca era esperta ao que acontecia à sua volta. Eram raras as vezes em que se pegava se sentindo só. Ela olhava pés e andares, mãos e gestos, bocas e verbos. E ela os lia como quem desvendasse uma selva num jogo de videogame, e sempre ganhava.

E ele, ao contrário, fechava-se nas entrelinhas de um outro mundo. Aparentemente, alheio ao de Bianca. Mas não havia problema algum. Era isso o que Bianca queria. Ela queria as cartas. As cartas anônimas sabe-se lá se enviadas ou recebidas. Bianca se satisfazia com o impopular, impróprio e improvável. A vitória era essa afinal, e não escaparia pelas entrelinhas dos seus dedos.


(Só porque a orelha dela esquentou)

quinta-feira, 7 de agosto de 2008

meios

Continuo viva e sem esquecer nem dos vivos e nem dos mortos. Porque o que nós somos nem mesmo me importa diante daquilo que eu penso ou quero ser, do que vivo, do que vivi e do que pretendo ainda - se me for possível - viver. Retomar o princípio me lembra que há uma história, um sentimento, um sentido... Para onde eles levam? É... Quero saber e nem quero também, pois dá a sensação de final... E isso não me agrada. Mas a curiosidade não é cega e nem invisível.