terça-feira, 12 de janeiro de 2010

conclusão

eu sou mesmo uma insuportável. se todas as atitudes se estampam na cara ao longo do tempo, devo ter meio-mundo de lágrimas covardes fazendo piadas sem-graça; uma constelação de palavras que jogam cartas trocando piscadelas falsas e algumas infinitas cenas em câmera lenta com o botão do replay travado: eu as revejo, dia e noite. Ah, se eu soubesse simplesmente como deixar ser... Ah, se o choro não fosse simplesmente engolido como um paracetamol que me dá alergia. Se eu soubesse o segredo de deixar o abraço se abrir. E que inveja eu tenho dos que simplesmente falam; dos que traduzem o que se passa por dentro, dominando frases, situações, organizando pensamentos. E por favor, não me diga que tenho sorte, que sou bonita, talentosa ou coisas do tipo. Seria conveniente apenas às prostitutas (o que somos, uma vez na vida, somos, e com prazer). Além disso, meu amigo, são fatores que se perdem com o tempo. E ajudam na conquista somente do inútil, do que pouco me importa, então, só me vem a atrapalhar. Eu vejo aí uma velhice turbulenta. Ou a maturidade só piora tudo ou estou fazendo o caminho inverso. A cada dia tudo fica mais difícil, complicado e sem graça. As relações, as comunicações. E me vejo me perdendo, perdendo o que tanto tento cativar... Já não faço questão de orgulhar a ninguém (porque um dia eu fiz, e consegui, e hoje não faz a menor diferença). Dessas virtudes que atraem mau-gosto, eu tenho coleções. Os interesses, as conveniências, deixam tudo superficial, que é temporário, não-verdadeiro, falso, mentiroso... Que é traidor e rasteiro. Se eu demoro para perceber, ou se simplesmente não percebo. É porque eu acredito, ou acreditei, ou acreditava.


"Ela é quase tudo o que sonhei
E eu sou quase aquilo que sempre evitei
E falhei, sim, falhei"
(Quase, Pato Fu)

segunda-feira, 4 de janeiro de 2010

Vida daninha


Mofou. Perdi uma caixa inteira de colares, porque simplesmente mofou. Foi tudo direto pro lixo. E, amigos (em especial as amigas) concordem comigo: não é fácil jogar uma caixinha inteirinha de colares no lixo. Foi-se. Peças de sementes (as jóias da Amazônia) têm essa desvantagem.


E aí eu percebi que tudo, até o meu blog, já estava sendo afetado por (minha) vida daninha: espontânea, caracterizada por uma inconveniência às vezes necessária; com grande poder de (rápida) adaptação e estruturas para dispersão. Fui à África, voltei, o ano se passou, e nada de post novo. Minha gente, a vida agora é outra.

Meu intercâmbio foi como o previsto: surpreendente! Foram as quatro semanas mais parecidas com quatro dias que alguém poderia viver. E eu nem deveria ousar descrevê-lo, unicamente pelo clichê de não ter palavras.


Tenho medo porque sei que, de qualquer forma, eu vou reduzir, diminuir, simplificar uma das maiores aventuras e emoções que já vivi: as diferenças, as semelhanças, as novidades, os mistérios, e eu acompanhada apenas da minha ansiedade e fé. Uma língua nova, um país novo. Um outro continente, uma outra cultura, uma outra casa, uma outra família (de amigos, de companheiros, de tudo).

Não fiz todos os passeios que desejei (safáris, mergulhos, vôos...), afinal, o turismo ficou mesmo em segundo plano. O intercâmbio foi pra estudar inglês e, diga-se de passagem, viajar, mudar, sair, literalmente. Não apenas encontrei ou conheci novas pessoas, mas convivi com gente de vários lugares do mundo: Rússia, Alemanha, Arábia Saudita, Japão, Coréia do Sul, Turquia, França, Itália, Peru, Colômbia, Angola, Zimbábue... E, claro, muitos brasileiros!

Pessoas diferentes, com outros estilos de vida, outros costumes e noções de mundo, todas em situação semelhante (na mesma cidade, na mesma escola) e com o mesmo objetivo: aprender inglês e ter outras experiências de vida; crescer; aumentar o leque de possibilidades; se conhecer; renovar o acervo de perguntas e encontrar respostas mais claras: “é possível” – foi a que eu encontrei.
A África do Sul, Cape Town, certamente foi uma ótima escolha, rápida e sem muita reflexão. Eu a escolheria novamente.

A pessoa é mesmo coisa fascinante. Dentro de todas as suas diferenças, crenças, contradições e defeitos. A pessoa é mesmo coisa fascinante. O que destrói é mesmo a falta de verbo, de comunicar. E conhecer – renovar – e tentar entender tem sido meu esporte favorito.



Fotos: Todas elas de lá!