Por quê?
Por quê??
Por quê???
Diz aí...
Não sei se é assim mesmo, mas acho que temos algum tipo de memória que está seriamente ligada a cores, cheiros e gostos que a gente vê e sente umas poucas vezes na vida e passa a se lembrar para sempre. Falo isso porque o entardecer que eu passava sozinha lá em casa, quando criança pequena, tinha uma cor que hoje não tem mais. Certa vez eu falava disso com o Handreh e ele me contou que quando acordava havia um cheiro, que hoje também não existe.
*E quanto ao Mapinguari, quem contava as histórias era meu tio. E eu lembro bem quando descobri que estava sendo enganada. Mas não foi nada traumático, pelo contrário, só eu sei como fiquei aliviada. Numa certa noite lá na chácara, meu tio, eu e um primo mais novo conversávamos na beira da piscina. Meu tio, já meio sob efeito de umas cervejinhas, contava as histórias e dava uma piscadela para mim e virava o olhar pro meu primo. E aí eu entendi que ele queria que eu concordasse com tudo para assustarmos o então mais novo da turma. Eu saquei o jogo e nem quis fazer parte da brincadeira. Fingi não entender nada. E fim de papo.

E nesse mesmo dia, eu me senti nadando contra a maré. Por incrível que pareça, acho que ninguém se preocupa mais com o futuro profissional de ninguém. As coisas nesse mundo mudaram mesmo. Quando eu falei: “vou sair da minha banda, preciso de mais tempo para estudar”, quase fui apedrejada, acredita? Pois é. Gente, ter banda não é fácil. É uma profissão também, assim como um outro trabalho, assim com ser estudante. É preciso organização, tempo, dedicação, responsabilidade, paciência, e mais uma porção de coisas para fazer dar certo.
Eu não conseguiria – aliás, eu nunca pensei nisso – medir o grau de prazer entre fazer música e fazer uma entrevista e escrever uma matéria. Ah, fala sério, são coisas incomparáveis e eu preciso escolher. E eu não quero ser a do contra, eu apenas quero ser normal. Portanto, adeus banda! E que venham as pautas, os releases e os furos de reportagens. Felizes daqueles que conseguem conciliar. Quem sabe um dia eu chego lá.
No entanto, melhor que tudo isso, eu sinto como se o mundo se fechasse de um lado, mas que de outro, um universo inteiro estivesse à minha espera.