terça-feira, 19 de junho de 2007

Palavras, fiquem longe de mim!

Gostar de escrever eu gosto. Mas como todos os meus outros gostos, esse de gostar de escrever também é meio confuso. Gostar de escrever eu gosto. Mas não gosto de ter que escrever. Às vezes não gosto de ter uma grande idéia para um texto. Transformar o que penso em palavras me deixa aflita. Nervosa. Ansiosa. Ás vezes eu não consigo me controlar. Eu fico agoniada.

Ás vezes eu só queria escrever qualquer coisa. Sem pensar muito. Sem muita reflexão. Sem preocupação com as concordâncias ou com a pontuação. Muito menos com os horários ou com número de linhas. Ás vezes é chato pensar em frases legais e depois esquecê-las e ter que lembrá-las. Elas aparecem e simplesmente somem, às vezes. E eu não gosto de brigar com as palavras. Elas são mais fortes do que eu. Elas me matam. E eu não consigo sequer feri-las. Tirar-lhes o sentido. Acho que tirar o sentido de uma palavra é o que mais pode lhe doer. É tirar-lhe a vida. Mas eu não consigo nem camuflá-las. Elas são mais poderosas. Independentes. Donas de si. Ás vezes eu odeio a palavras. Justamente por esses motivos. Mas, às vezes, eu as amo justamente por esses motivos também. Eu tenho inveja das palavras. Eu queria ser que nem elas.

Mas escrever me traz brigas. Discordâncias. Escrever me deixa propícia a situações em que perco a paciência. Mas eu não demonstro, claro. Eu escondo a minha falta de paciência em algum lugar. Num riso, talvez. Ou transponho-as nas palavras. E assim elas me ganham. Assim eu me entrego a elas. Assim, eu viro toda uma qualquer-coisa-das-palavras. Nesses momentos eu até gosto delas. Mas, definitivamente queria não gostar. Eu as acho falsas. Elas são falsas. Como eu, que preciso delas e finjo não precisar. Que preciso delas, mas não queria, realmente, conhecê-las. Porque elas me fazem ser falsa comigo mesma. Elas me deixam em silêncio. Ah, palavras, palavritas, palavrões. Vão pra bem longe, lá pra onde eu não tenha que me esconder. E cale todas essas bocas velhas. E os dedos também!

Um comentário:

Santiago Queiroz disse...

li seu texto e lembrei de uma coisa q eu tinha escrito, óia:

"faço com você o que faço com as palavras.
procuro. chamo. misturo. encaixo. ajusto.
você faz comigo o que fazem as palavras.
somem. maltratam. distorcem. mentem. fogem.

será que é falta de experiência?
em escrever?
em amar?
queria acreditar que não"


^^